O fim que se aproxima, a angústia do tempo que se acaba. A iminência do desconhecido e a inevitabilidade do desapego. Quanta coisa acontece no final do último dia! E nos desesperamos com a visão da morte embutida em nossas despedidas.
Domingo… últimos momentos de uma jornada de vitalidade e esperança. Em suas últimas horas, quantas histórias… quanta leveza construída na dança de suas manhãs e tardes ensolaradas, espreitadas pela dor solitária de seus corações desavisados, que lhe penetram a noite, desafiando suas reservas.
Vem assim a ameaça do final quando, irracionalmente, cedemos aos lamentos e aos fantasmas da escuridão dominical. E, assombrados, não vemos, ou não queremos ver, que a festa tem que acabar inevitavelmente. E nos revoltamos.. e nos debatemos como crianças no final da festa, porque nunca sentimos que aproveitamos tudo que podíamos, porque sempre há muito mais a ser sentido, a ser vivido. E alguém nos questionaria: Por que isso agora? Você não teve um fim de semana inteiro pra você? Você nunca está satisfeito? Por que essa irritação? Por que você fica nervoso domingo à noite?”
Certamente estamos cheios de razão. Onde estamos no Domingo à noite? Ou melhor, onde não queremos estar? Não há dúvida que Domingo é um dia como outro qualquer. A única diferença é que somos colocados diante de nós mesmos, de frente para o espelho. E muitas vezes não queremos ver. Mas, o que não queremos ver? O que não estamos dizendo, domingo à noite?
Não o que deixamos de fazer, mas quem deixamos de ser, e que mudanças foram adiadas em nosso fim de semana? Que decisões foram substituídas por nosso comodismo? Quanto estivemos desviando de nos comunicarmos efetivamente com alguém? Quantas oportunidades de tocarmos e sermos tocados profundamente deixamos de ter?
Quantas voltas demos em torno de nós mesmos neste fim de semana? Quanta beleza pudemos entregar sem percebermos, sem arriscarmos? Quanto nos fizemos cegos ao outro à nossa frente, ao nosso lado? Quanto de nós mesmos decidimos continuar sem conhecer? Quanto tivemos nas mãos e quanto deixamos escapar pelos dedos?
E buscamos algo ou alguém para respaldar nossas expectativas e nossas velhas crenças… E queremos manter nossos olhos abertos até o último segundo, na esperança de uma grande surpresa, uma grande novidade que nos alimente a alma, e nos poupe do esforço de encararmos nós mesmos em nosso real tamanho, nossas reais expectativas e sonhos não realizados… que pudessem diligenciar nossos passos de forma consistente na direção de resultados reais, muito além de um final de semana de festa.
E nos entregamos, por fim, à abençoada inconsciência de um sono profundo que nos resgata da arena no momento exato em que já não podemos negar que, na figura fantasmagórica de nossas máscaras, perseguimos nós mesmos com nossas culpas e perdões, cegos e sábios por nos acolhermos em nossas próprias almas, fundindo nossa luz em nossa sombra enfim… retomando nossa alma, tão longe abandonada por nós mesmos.
por André Luiz Braga Queiroz
Maio de 2008